Minas Gerais está em festa. Na manhã desta quarta-feira, 5 de julho, durante reunião do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep), foi aprovado o registro dos Sistemas Culinários da Cozinha Mineira – O milho e a mandioca como patrimônio cultural imaterial do estado, o que torna a cozinha mineira oficialmente um patrimônio dos mineiros. O registro é resultado de um trabalho de mais de dois anos, que envolveu a produção de um complexo dossiê, que englobou não só os sistemas registrados, mas também uma caracterização detalhada da história da cozinha mineira. A produção desse dossiê ficou sob a responsabilidade do Instituto Periférico em uma cooperação técnica com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG).
Ao longo desses quase dois anos, uma equipe de experientes pesquisadores se dedicou à escrita do dossiê, que aborda perspectivas históricas, antropológicas e ambientais da cultura alimentar e sua centralidade para a construção identitária de Minas Gerais e a importância da continuidade dos saberes tradicionais. Além da tratativa teórica, também compõe o dossiê um extenso levantamento de dados a partir do acervo do Iepha-MG em relação ao Programa ICMS Patrimônio Cultural. Assim, foi possível mapear o que os municípios mineiros têm inventariado e registrado sobre os sistemas culinários do milho e da mandioca.
Durante a reunião, o relator do Conep, Flávio Carsalade, apresentou seu parecer em relação ao dossiê e abriu votação sobre o pedido de registro, que foi aprovado pelos conselheiros. Também foi apresentado aos presentes um vídeo-documentário sobre a cozinha mineira e as vivências com relação à cozinha ao milho e à mandioca, destacando os quilombos, as cozinheiras, as quitandeiras e os detentores de saberes em geral, mostrando como eles se relacionam com o tema.
Com esse registro oficializado, a cozinha mineira entra em uma nova fase de proteção e salvaguarda, com desenvolvimento de diversas políticas públicas com objetivo de preservá-la e valorizá-la.
De acordo com a diretora-presidente do Instituto Periférico, Gabriela Santoro, ao registrar a cozinha mineira abre-se um caminho para o desenvolvimento de diversas políticas públicas com foco na promoção e salvaguarda da mesma. “A cozinha mineira tem grande importância na constituição cultural de Minas Gerais. A cultura alimentar é intrínseca à cultura de Minas, representa dinâmica familiar, religiosidade, festividades e várias formas de socialização. A cozinha vai muito além do alimento. É algo tão central na cultura do estado que tudo esbarra nela. Por isso, ela tem que ser valorizada, protegida e preservada”.
A coordenadora do projeto Cozinha Mineira Patrimônio, Luciana Praxedes, explica que a escolha dos sistemas culinários do milho e da mandioca se deu pela sua presença, representando parte importante dos sabores, saberes e técnicas envolvidas na culinária de Minas Gerais. “A partir desse registro, outros sistemas da cozinha mineira podem ser estudados, inventariados e registrados como bem imaterial do estado, aumentando ainda mais a salvaguarda da história, da cultura e das tradições mineiras”.
Segundo ela, a cozinha é um lugar que centraliza o “ser mineiro”, que simboliza a sociabilidade de Minas Gerais. “Esse lugar reúne diversos saberes, ofícios, instrumentos, técnicas e tradições alimentares que se desenvolveram principalmente a partir do encontro entre indígenas, africanos, e europeus que se instalaram no estado mineiro, um encontro\ marcado por hierarquias sociais, práticas conflitantes e apropriações”.
Para além da produção do dossiê e formalização do registro, o Instituto Periférico vai entregar nos próximos meses um caderno de patrimônio, publicação produzida em conjunto com o Iepha-MG, uma cartilha para uso da rede de ensino e 30 filmetes com temas específicos da cozinha mineira.
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